Noticia-se que o governador de Brasília, Ibaneis Rocha (MDB-DF), teria destinado R$ 7 milhões do chamado orçamento secreto para cidades do Piauí onde possui fazendas de gado. Em princípio é uma alta irregularidade, pois ele é governador do Distrito Federal e não tem porque arregimentar verbas para outras unidades da federação mesmo que, pessoalmente, nelas possua propriedades ou interesses empresariais. Pior se os recursos remanejados fossem originalmente destinados ao DF e péssimo se, de alguma forma, serviram para beneficiar as propriedades do governador. Há um rosário de suposições lançado ao ar, que clama por esclarecimento para, à luz do apurado, se propor medidas contra as irregularidades cometidas tanto pelo governador quanto por outros envolvidos se forem verdadeiras ou, em caso contrário, dar-lhes os subsídios necessários para processar criminalmente e pleitear reparação cível dos que tenham denunciado sem ter como provar.
Infelizmente vivemos um tempo em que os inventivos bocas frouxas, por diferentes razões, criam e espalham boatos e inverdades sobre seus adversários políticos, empresariais e até pessoais. Muitos casos denunciados ruidosamente acabam caindo na prescrição e no esquecimento sem que sejam esclarecidos. Se por um lado os denunciados não são obrigados a formar provas do contrário, também não têm a oportunidade de chamar à responsabilidade quem os envolveu indevidamente, quando esse é o caso. O clima de impunidade é uma tônica e, com toda certeza, deve beneficiar os que realmente cometem irregularidades e se locupletam pela falta de credibilidade generalizada do meio e até das instituições.
O senso geral de que “todo político é ladrão” – que ouvimos desde os tempos de criança, é terrivelmente injusto. Embora existam no meio os execráveis delinquentes que deveriam estar todos na cadeia (mas não estão e alguns até foram soltos por poderem pagar boas defesas), há uma imensa maioria de políticos bem intencionados e conscientes de suas obrigações que, muitas vezes, não conseguem levar avante seu trabalho por conta dos esquemas verdadeiramente criminosos que interferem no meio político. Por conta disso e dos interesses subalternos daquela minoria que controla partidos e regiões, há na política o baixo clero que, para sobreviver, sucumbe aos esquemas e também ganha o nome de corrupto sem jamais ter roubado. Enfraquecidos, eles apenas cuidam de sobreviver, mesmo que à custas da perda da dignidade.
Não queremos crer ou deixar de crer naquilo que falam do governador de Brasília. Mas esperamos que ele próprio seja capaz de promover os esclarecimentos e haja mecanismos oficiais confiáveis capazes de aferir a veracidade do que disser, até como forma de tranquilizar a população sobre o assunto. Especialmente quem nele votou para o governo brasiliense e hoje podem estar desapontados com a possibilidade de ter transferido para territórios vizinhos às suas fazendas verbas que poderiam estar resolvendo problemas locais.
Enquanto não tivermos instituições fortes e independentes com capacidade para investigar e dirimir dúvidas, teremos o denuncismo de execração que se lastreia na impunidade dos destruidores de reputações. No meio militar, quando há dúvida sobre alguém, é mais fácil ele ser punido do que sobreviver. “É preferível ter fora do quartel alguém honesto que não conseguiu provar sua inocência do que manter um suspeito na tropa”, reza a velha cartilha. O mesmo deveria ser observado no meio político-institucional. Livraria a classe da imagem negativa que hoje faz o povo desprezar até os que agem corretamente mas sofrem o reflexo dos errantes que conspurcam o ambiente. Parlamentares e os centros do saber legal e jurídico fariam muito bem ao país se desenvolvessem uma legislação mais severa para punir a corrupção e os desmandos político-istrativos, tomando por base o que fazem os países mais desenvolvidos, independente da ideologia. Corrupção não tem matiz ideológico, é apenas crime a ser punido.
Ibanheis e todos os políticos e es que sofrerem algum tipo de denúncia têm de ser rigorosamente investigados. Isso lhes dará chance de defesa em caso de falsidade da acusação e, se positiva, servirá para deles livrar o meio político e a sociedade. Chega de corruptos e de impunidade!…
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) [email protected]
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