A Decrease font size. A Reset font size. A Increase font size. 6pf2g

A MORTE DE FRANCISCO E O FUTURO DE UMA IGREJA EM DIÁLOGO 3b1d2k

Konrad Felipe/Jornalista – [email protected]

A morte do papa Francisco, ocorrida na última segunda-feira, 21 de abril, encerra um ciclo que foi além das fronteiras da fé católica. Aos 88 anos, Francisco se despediu não apenas como o líder de mais de 1,3 bilhão de católicos no mundo, mas como uma voz ativa nas pautas mais sensíveis do século XXI: imigração, desigualdade social, meio ambiente, e, surpreendentemente para muitos, o diálogo com os não crentes.

O “papa dos ateus”, como foi informalmente apelidado, deixa um legado profundamente marcado pela escuta e pelo acolhimento — inclusive daqueles que historicamente estiveram à margem da Igreja Católica. Ateus, agnósticos, muçulmanos, judeus, LGBTQIA+, divorciados… todos foram convidados por Francisco a olhar para a Igreja não como um tribunal moral, mas como um espaço de comunhão e solidariedade humana.

Diálogo com os que não creem: uma herança de coragem

Talvez nenhum outro gesto resuma melhor essa postura do que o consolo dado a um menino que perguntava se seu pai ateu estaria no céu. “Deus tem o coração de um pai”, respondeu o papa. Não foi apenas uma frase afetuosa: foi um posicionamento teológico corajoso, que desmonta séculos de exclusividade salvífica.

Francisco confrontou a ortodoxia sem renunciar à fé. Seu papado foi o de um construtor de pontes. Na prática, isso significou ir à Lampedusa, logo em 2013, para denunciar a tragédia dos refugiados, lavar os pés de muçulmanos e hindus numa cerimônia da Quinta-feira Santa, e defender publicamente os direitos de casais homoafetivos.

Para o historiador Diego Omar da Silveira, o papa rompeu com o exclusivismo moral herdado de seus predecessores e se apresentou como um líder global com sensibilidade humanista. Já o padre Luís Corrêa Lima, da PUC-Rio, destaca que a missão de Francisco foi lembrar que “o mais importante não é aumentar o número de católicos, mas ser fiel aos valores do evangelho”.

E agora? Quem será o novo papa?

Com a morte de Francisco, o mundo aguarda o conclave que escolherá seu sucessor. O cenário é imprevisível, mas há nomes recorrentes nas apostas internacionais:

Cardeal Pietro Parolin, atual secretário de Estado do Vaticano, representa a continuidade institucional e diplomática do legado de Francisco.

Cardeal Luis Antonio Tagle, filipino, é jovem e tem forte apoio nas regiões mais populosas do catolicismo — Ásia e América Latina.

Cardeal Peter Turkson, de Gana, é símbolo de uma igreja cada vez mais voltada ao Sul Global, com atenção especial às causas sociais.

Cardeal Fridolin Ambongo, da República Democrática do Congo, combina carisma pastoral com firme posicionamento contra injustiças e desigualdades.

Quem quer que seja escolhido, enfrentará uma encruzilhada: dar seguimento à abertura iniciada por Francisco ou ceder às pressões conservadoras que ainda habitam muitos setores da Cúria Romana?

Um novo tempo para o diálogo inter-religioso e secular

Em tempos de avanço do extremismo, o que se espera do novo pontífice não é apenas um bom teólogo, mas alguém com capacidade de costurar alianças, ouvir os diferentes e, sobretudo, entender que a Igreja não é um bunker contra o mundo moderno — mas pode ser um farol dentro dele.

A morte de Francisco reacende a pergunta: será possível manter uma Igreja Católica que acolhe, escuta e inclui até mesmo aqueles que não creem? A resposta virá com a fumaça branca do conclave. Mas uma coisa é certa: os muros entre fé e razão, Igreja e ciência, crentes e ateus, ficaram mais baixos graças à humildade de um papa que preferiu ser chamado de “irmão”.

Francisco não mudou os dogmas, mas mudou o tom. E às vezes, mudar o tom muda tudo.

Seja o primeiro a comentar sobre "A MORTE DE FRANCISCO E O FUTURO DE UMA IGREJA EM DIÁLOGO" 18271k

Deixe um comentário Cancelar resposta 601z2p

Seu endereço de e-mail não será publicado.


*