A Decrease font size. A Reset font size. A Increase font size. 6pf2g

O silêncio nas salas de aula: a preocupante evasão dos cursos superiores públicos 251f57

Foto: Reprodução

Konrad Felipe – Jornalista
[email protected]

Na semana ada, quebrei minha rotina de publicar este artigo semanalmente em A Gazeta do Vale do Araguaia. O motivo foi uma agenda enriquecedora, mas também inquietante. Estive em Goiânia, na Universidade Federal de Goiás (UFG), participando de uma aula de Jornalismo Esportivo, e no dia seguinte palestrei sobre Inteligência Artificial e Jornalismo, um tema atual e urgente. No mês anterior, falei na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus de Barra do Garças, sobre o papel do Sindicato dos Jornalistas. Mas algo me chamou mais atenção que os temas abordados: as cadeiras vazias.

Tanto na UFG quanto na UFMT, o público era pequeno. Poucos alunos, pouca vibração acadêmica, pouco movimento. Ao retornar a Barra do Garças, conversei com o secretário municipal de Educação, Eliciomar Braz, e ele confirmou a tendência preocupante: a baixa procura por cursos superiores públicos. Segundo ele, não é só o curso de Jornalismo que sofre — cursos como Engenharia de Alimentos sequer formaram turma neste semestre.

Essa ausência de estudantes nas universidades públicas, que já foi considerada uma das grandes conquistas da educação brasileira, levanta uma série de questões que precisamos debater com seriedade. Por que os jovens estão desistindo da universidade pública?

Os fatores são múltiplos e complexos. Um deles é a crescente necessidade de inserção precoce no mercado de trabalho. Muitos estudantes, especialmente de famílias de baixa renda, precisam trabalhar cedo e não conseguem conciliar estudo com sustento. Além disso, o crescimento dos cursos tecnólogos e profissionalizantes de curta duração — muitas vezes ofertados por instituições privadas ou online — tem se mostrado mais atraente por prometerem retorno financeiro mais rápido.

Outro ponto é a desvalorização simbólica da universidade pública nos discursos públicos e nas redes sociais, onde o conhecimento técnico tem sido priorizado em detrimento da formação crítica e cidadã. Some-se a isso as dificuldades de o — desde a logística do transporte até a falta de políticas de permanência estudantil, como bolsas, moradia e alimentação — e temos um quadro que beira o colapso silencioso.

Em Barra do Garças, cidade que abriga um importante campus da UFMT, essa crise tem implicações locais gravíssimas. Deixar que os cursos se esvaziem é abrir mão de formar profissionais para nossa própria região. É comprometer o futuro da comunicação, da engenharia, da saúde, da educação, da ciência. É negar oportunidades a jovens que poderiam ser protagonistas de uma nova realidade para o Araguaia.

A ausência dos jovens nas universidades públicas não é um problema isolado — é um sintoma de uma sociedade que precisa repensar suas prioridades. O que estamos fazendo para valorizar o conhecimento? Que caminhos estamos abrindo para os nossos jovens?

Você sabia que, segundo o IBGE, o Brasil ainda tem menos de 20% dos jovens entre 18 e 24 anos matriculados em instituições de ensino superior? Esse número nos coloca atrás de vários países da América Latina e mostra o tamanho do desafio que temos pela frente.

É hora de retomarmos esse debate com força. Universidades públicas fortes e íveis são pilares de qualquer nação que deseja crescer de forma justa, inclusiva e inteligente. E isso começa com salas cheias, mentes inquietas e jovens sonhando com um futuro melhor.

Seja o primeiro a comentar sobre "O silêncio nas salas de aula: a preocupante evasão dos cursos superiores públicos" 6g1i1h

Deixe um comentário Cancelar resposta 601z2p

Seu endereço de e-mail não será publicado.


*